Amores Decadentes

Eugene, Oregon, 1995

Como Salvador em Exile, tenho de ir embora. Mas antes de partir eu vou analisar bem a situação ao meu redor. Eu já sei como vai ser no Brasil – e cínico, olho aqui os EUA – daria para rir até chorar – mas que seres tristes e perdidos: Mary, a bibliotecária psicótica; Constance, a pintora frustrada e neurótica ao fim da linha; Sandy, a pastora, também frustrada e neurótica, abandonada pelo seu Deus; Susan, a feminista, amarga… Mas que talento desperdiçado… Tarde demais para elas todas, a vida já escorregou por entre os seus dedos – somente falta esperar morrir.
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Excerpts from the Story

Sábado pelas seis horas Constance telefonou e quis vir: sozinha, não passou uma boa semana; tinha de pedir dinheiro à irmã dela. Ela conta que o cara que mora com a irmã estava a fim dela, e brincava com ela antes de lhe dar o dinheiro: ele falou das velhas histórias da separação dela com o ex-marido até ela chorar. Eu ia ficar sozinho este fim de semana mais cedi sem pensar. Ela chegou pelas sete. Estávamos nos divertindo muito, uma saia combinação preta e uma camisola branca, brincos compridos de prata, cabelo tirado em cima. Fumamos maconha. Constance no sofa tal a Maja, branca, deitada, bela e sensual. Tinha tirado a calcinha dela e estou sentado no chão brincando com os pelos louros do seu pubis. Na cama. É uma loucura. A primeira metade acompanhados pela música de Main, depois silêncio. Pela metade eu desço, suculenta, molhada, uma onda doce, gozando constantemente. Estamos deitados nus em cima da cama e alguém bate à porta; onze horas; Mary; a campainha soa; que droga eu digo quando soa porque faz muito barulho. Bate outra vez. Estamos nos olhando, que fazer? Se fosse só eu teria dado cinco minutos para ela largar o lugar antes de chamar a polícia. Boto música de Cranes. Digo que poderíamos ir à porta, ela na saia só, e dizer que estamos ocupados. Digo, bom, poderíamos deixá-la entrar e assim talvéz ela saque.

Talvéz faria bem ela ver realmente a situação, entender algo. Botamos uma roupinha. Bate, soa. Abro a porta: Tem alguém aqui mas você pode entrar se você quer. Ela parece uma rata saíndo da sarjeta. Pergunto,

– Está dormindo de noite?

Muito pouco. Ela conta que uma colega telefonou às seis da noite e ela pensou que era de manhã. Connie está deitada em cima da cama; estou sentado no sofa a dois lugares; Mary está sentada no sofa. Elas querem café descafeinado; eu faço. Mary decide que Connie é mais sofisticada que ela. Eu digo a Mary que eu já tenho feito isso (uma confrontação entre duas namoradas), e que não me importa muito. Não está sacando nada. Connie e eu digamos que sou um “jerk” (um canalha). Mas realmente o que eu penso é que o amor não é como ela pensa. Digo que entro nas cabeças das pessoas e fico farejando. Connie diz que ela guarda uma certa distância comigo. Mary deita no sofa como uma cadela contente. Digo que se ela vem só para dormir pode ir embora. Ela senta de novo; depois senta no chão. Está estragando a noite já e quero pelo menos que algo saia dos estragos. Ela diz que eu a enganou. Digo,

– E eu sou responsável? como se eu fizesse promessas e não estava honorando a palavra – não.

Dá nojo. Ela continua, como ela gostou tanto deitados em cima da cama na casa dela falando em línguas diferentes. Digo,

– Só que você não as sabem estas línguas. . . é conversa dum lado só.

Não saca. Então começo a falar francês para lhe mostrar que não pode contribuir porra nenhuma. Depois de um tempo diz,

– Mas o espanhol. (ela tem uma idéia básica de espanhol).

Então me lanço no espanhol; não entende nada. Tentamos dizer para ela que deveria procurar alguém que a ama e que ela ama menos, que eu trato ela de merda. Ela se arrasta até mim e quer aconchegar-se a minha perna. Digo para ela se afastar. Finalmente basta. Ela vai ao banheiro; cagou na calça dela. Ela volta e digo que ela tem de ir embora. Ela pede uma outra calça. Tem até merda no carpete. Digo para ela amarar uma camisa que ela tinha tirado na cintura. Estou pensando que já chegou a hora, que vou ter de ficar duro mesmo. Ela senta e acende um cigarro. Faço de iritado e começo a gritar,

– Conto até cinco e se você não está fora eu boto você fora de força.

Ela bota os sapatos a contra-gosto. À porta ela quer que eu a leve pro carro. Digo nem pensar, está frio demais; fecho a porta; que alívio. Vou no banheiro. Connie vem até a porta do banheiro, fala alto,

– Está batendo o prédio com o carro.

Saio disparado,

– Que?!

Pensando que ela está com raiva, louca, e abalroando o apartamento a propósito. Abro a porta, já bateu duas vezes, mas é que está só tentando sair, e tão confusa que não consegue; tenta outra vez e consegue. A vizinha de cima desce. Bibliotecária psicótica. . . puta estúpida, estou pensando. Bateu no poste que suporta o balcão de cima, onde a vizinha estava, que caiu um pouco e a assustou; bateu na torneira de fora e quebrou e a água está saíndo, jorrando. Estou olhando isso pensando, “merda e merda”. Finalmente Connie tem a idéia de buscar uma mangueira e bico; pego as coisas atrás no terraço e me molho colocando-as. Tentamos voltar à noite bonita que estavamos passando; fumamos um pouco de maconha. Estou dizendo que nunca vou nem falar com ela. Fazemos amor outra vez. Esta noite estou gostando muito dos seios dela, macios, me apreitando contra eles. Finalmente ela está bastante calma e não está se retorcendo e gemendo o tempo todo.

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